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Foto do escritorAlexandra Iarussi

No telefone com Stephanie Gilmore

Atualizado: 2 de jul. de 2023


“Alê: Oi, Steph, boa tarde. É realmente um prazer falar com você. Obrigada. E parabéns pela vitória no Rio!”. Confira entrevista exclusiva com um dos maiores símbolos do surfe feminino mundial, a australiana Stephanie Gilmore.


Começo a entrevista via telefone. Do outro lado da linha, a [na época] seis vezes campeã mundial de surfe. A australiana Stephanie Gilmore, nesse momento no segundo lugar do mundo no ranking do circuito mundial da elite do surf. Um dia antes da ligação, ela havia vencido o Saquarema Pro, etapa do mundial de surfe realizada no Rio. Foi sua segunda vitória consecutiva no circuito profissional chancelado pela Liga Mundial de Surf (WSL); depois de também ter vencido a etapa anterior, em Bells Beach, Austrália.


Stephanie (S): Foi um evento incrível! Também assisti à vitória do Filipe no Brasil. Foi muito bonita. Com certeza, algo especial.

Alexandra (A): Eu imagino. Me conta uma coisa, tenho uma pergunta guardada para você. Juro que ela existe antes de ver você, Carissa Moore e Lakey Peterson tocarem juntas no Rio (durante uma noite as surfistas se apresentaram ao público em uma jam session). Se você pudesse formar um power trio, qual seria?

S: Hum…Power trio…Não entendi direito sua pergunta.

A: Power trio, quero dizer uma banda, um supertrio musical.

S: Hum… Sou muito fã da Rihanna. Com certeza estaria em uma banda com ela, e, também alguém como Mick Jagger. Seria lindo.

Depois de rirmos um pouco, quebrando o gelo em função das milhas de distância que nos separavam, ela continua…

S: Ou, não sei, talvez escolheria outra pessoa. Alguém como Filipe Toledo. Talvez ele saiba tocar guitarra…Ou talvez Gabriel. Acho que o Gabriel Medina seria ótimo frontman de uma banda – isso, ele seria o cantor. Porque ele é um astro do rock, sabe? Acho que ficaria confortável cantando na frente da multidão.


A: Qual a primeira música que vocês tocariam?


S: Temos que cantar em português. Tem tanta música boa no Brasil. Ouvi muito Rita Lee, principalmente Os Mutantes. Acho que cantaríamos aquela, Ando Meio Desligado.

A surfista gostou tanto, que usou a música em um dos clipes do seu Instagram, durante sua estadia no Rio de Janeiro – dá play no vídeo:





Damos mais risada. Passo para a próxima pergunta, sei que o tempo é curto.


A: Lembro de assistir a um filme do Taylor Steele, chamado Proximity. Em uma das partes, você surfa com Dave Rastovich. Em algum momento, você fala que não pensa muito enquanto surfa, e de como o surfe é um processo intuitivo.


S: Bem, o surf é sobre dividir um momento no oceano com outras pessoas. Não há jeito específico de fazer. Essa é a beleza, uma expressão criativa e única de cada ser humano. Naquela viagem com o Dave teve muita gente, que quando assistiu a gente surfar, não percebia a diferença de gênero. Era apenas o ser humano no oceano, era sobre a relação entre o ser e o oceano, isso é o mais especial. Foi muito legal. Eu gosto do meu jeito de surfar.



Muitas pessoas me falam que surfo igual a homem. Mas, eu acho que os surfistas homens que surfam mais bonito têm uma coisa de gratidão e o feminino está presente no surfe deles. Acho que essa mistura entre masculino e feminino no surfe é o mais bonito de se olhar. Naquela trip, eu e Dave nos conectamos nesse sentido. Foi especial.



A: Entendi. Lembro de você falar sobre estilo também.


S: Estilo pra mim… Então, tem vários tipos de estilo. Pode ser mais agressivo, como Dane Reynolds. Pode ser como Filipe Toledo, sempre tão dinâmico e explosivo; ou pode ser fluído e suave; então, acho que estou nessa categoria, suave.


Acho que quando alguém assiste algo que parece ser feito sem esforço, fácil de assistir, isso é ter estilo, isso é algo que busco em meu surf. Caras como Tom Curren, Dave Rastovich, nossa, tem tantos caras incríveis. A Lisa Anderson tem um estilo lindo, adoro vê-la surfar…E a Silvana Lima, sempre manda grandes manobras, adoro ela. Acho que tem a ver com surfar fluído e com gostar do que está fazendo, sabe? Você sabe dizer quando alguém está gostando da onda. As pessoas sempre me dizem que sorrio enquanto surfo, isso é porque estou me divertindo.


A: Falando em diversão, uma curiosidade: quais os melhores clipes de surf que você já viu?


S: Cresci vendo muito Mick Fanning e Joel Parkinson. Mas, sabe, adoro ver filmes do Kelly Slater – o Black & White, por exemplo, está aí um ótimo filme. Também adoro ver Tom Curren surfar J-Bay; histórico, um clássico. Hoje em dia, assisto de tudo: todos os filmes de John John e até mesmo os short films (videoclips). Mas acho que o John John é o cara que está dominando essa história dos filmes de surfe.






Também tive influência do meu pai, um ótimo surfista. Cresci ouvindo-o tocar guitarra. Adoro esse mix. Surf e guitarra. Essas coisas que têm a ver com sentir. Muito do surfe é intuitivo, você não pensa a respeito, você sente e faz. O surfe pode ser uma expressão legal de como você é. Cresci vendo ótimos surfistas homens, e sou mulher, coloco meu toque feminino no que faço e sai como sai.


A: Tive a honra de entrevistar Gerry Lopez. Foi um sonho.

S: Que legal! Eu o conheci no Rio, tive o prazer de me sentar ao lado dele. Foi um sonho para mim também. Conversamos, mas não falamos muito um para o outro. Eu apenas perguntei se eu podia surfar com ele algum dia.

A gente ri junto. Interrompo a hexacampeã:


A: Nossa ele tem uma serenidade. Não sei se já vi algo parecido com isso.


S: Sim, sei do que você fala. Como ele é especial. Ele tem uma aura tão calma, é incrível.

Eu não conheci tantas pessoas que tem essa mesma coisa de aura como ele.


A: Pois é! Ele me contou que muitas pessoas perguntam se ele se recorda da melhor onda que ele já pegou. Daí falou que não vê muito sentido nessa pergunta, porque ele não fica pensando na onda que ele já pegou, e sim na que vai pegar. Por isso, te pergunto: qual a sua próxima onda?


S: Nossa, especial. O Gerry… Parece que ele é tão inspirado pelo mundo. Penso que é algo que acontece também com o Kelly Slater, que ele não está pensando nas coisas que fez, e sim aonde pode chegar.


Esse sentimento, de que você está sempre aprendendo, que tem algo a aprender, evoluir e progredir, e claro, manter a mente jovem, acho muito importante. Para nós atletas acho muito importante pensar no que vem adiante em vez de focar no que você fez. Realisticamente, não é o que você fez, mas como você olha para as coisas, se comporta diante das situações e o que pode conquistar que faz a diferença. Faz uns anos que não venço um título mundial [o seu último título foi em 2014], quero muito fazer isso, então, estou me desafiando, vendo se consigo me comprometer com isso, colocando meu coração e alma nisso, tentando vencer.


A: Falando em vencer, esses dias fui conhecer um podcast australiano chamado Fierce Girls [Garotas Ferozes, na tradução livre]. Você participou do projeto, né?


S: Sim! Um programa da rádio ABC. Eles contam histórias de mulheres incríveis. Mulheres casca grossa, que fazem coisas maravilhosas. Me pediram para contar a história de Louise Savage. Ela nasceu com deficiência nas pernas e desde criança era destaque em todos esportes com cadeira de rodas. Ela compete nos Jogos Paraolímpicos e já venceu nove medalhas de ouro. Tem muitas histórias, e este é um jeito muito legal de inspirar as mulheres – contando histórias de mulheres que vão atrás dos seus sonhos.


A: E quais são as mulheres ferozes da sua vida? As que te inspiram.


S: Minha mãe. A mais velha de sete crianças. Ela é legal, cuidadosa, me apoia, é incrível. Sou muito fã de Serena Williams, acho ela a epítome do glamour e da ferocidade, uma atleta icônica, incrível, inspiração para todo atleta, não apenas para tenistas. E adoro a Rihanna! Porque ela simplesmente não liga, ela é exatamente o que quer ser, adoro ela de verdade e como ela lida com as coisas.


RIHANNA: “PODERIA SER MINHA CADDIE”


A: Já levou ela para surfar?


S: Não! Acho que ela chegou a surfar no Havaí, com o Koa Rothman.


A: Ah! Você poderia levá-la! Acho que ela ia se divertir.


S: Quem sabe levo ela para os campeonatos – ela poderia ser minha caddie (pessoa que acompanha o surfista na água durante uma bateria com uma prancha reserva).


Mais risadas. Me esforço para lembrar que a ligação é uma entrevista e volto às perguntas.


A: Você está no Tour desde os 17 anos de idade. Você não se cansa?


S: Ah! Adoro estar no Tour. A parte dos aeroportos cansa, mas tenho liberdade e energia para fazer isso. Então, vou fazer enquanto eu puder.



PISCINA DE ONDAS: “É UMA INVENÇÃO INCRÍVEL. MAS NADA COMO VENCER NO OCEANO”


A: Tem uma coisa que eu preciso te perguntar. O que você acha das piscinas de onda?


S: Vejo a piscina de ondas como uma invenção incrível. Nossa, imagina isso, uma piscina de ondas perfeita no meio do nada no deserto. A tecnologia é tão boa. Com certeza o oceano sempre proporcionará a experiência mais mágica. Mas, pelo lado competitivo, do surfe profissional, a piscina é muito legal. O surf é algo muito especial no planeta, e para aqueles que não têm acesso ao oceano o tempo todo, as piscinas permitem que essas pessoas possam surfar. Isso é muito especial. Não vejo a hora de competir em uma novamente, vai ser muito legal! Mas é claro que o oceano é o que mais importa, e é claro que vencer eventos no oceano é muito mais recompensador.


A: Ainda sobre as ondas artificiais, teve outra coisa que reparei. As diferenças entre os surfistas ficam menos evidentes.


S: Sim! Na Founder’s Cup vimos isso.


Quando surfistas homens e mulheres foram colocados no mesmo campo de batalha, exatamente a mesma condição, as performances de um e de outro ficaram parecidas.


Vejo a piscina como ótima ferramenta de treino para mulheres, e para homens também. Voltando ao oceano, acho que os homens sempre serão mais fortes. Ainda mais se tratando de ondas grandes e pesadas. Isso é algo que nós mulheres temos de trabalhar, ficar confortáveis em ondas sólidas e dar aéreos. Mas…tem tantas mulheres boas por aí!


A: Estourei o tempo, esta é minha última pergunta! Aproveitando que você falou em mulheres e ondas grandes… Pensei na Laura Enever. Ela saiu do Tour para pegar as bombas. O que achou da decisão?


S: Ah! A Laura! Amo ela. Ela é a melhor. Ela sempre gostou de ondas grandes. De se desafiar desse jeito. Ela tem muito talento. Ela é incrível. Eu nunca soube se ela tinha esse tino para competições, do tipo, surfar baterias. Acho que o lance do surfe de ondas grandes é muito desafiador, algo entre você e o oceano. Você se desafia, e acho que ela ama isso. Ela está se divertindo, sem precisar esmagar seu oponente [risos]. Acho que vai ser bom para ela. Sinto falta dela, e acho que, quem sabe, daqui um ano ela volta. Ela pode perceber o quanto sente falta do Tour…


A: Obrigada, Steph! Te desejo uma ótima viagem de volta. Preciso te falar também, sou sua fã, e adoro te ver surfar.


S: Valeu! É hora de voar para casa.



* Texto publicado no origemsurf.com.br



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